segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

O CÉREBRO E O CONSUMO DE PORNOGRAFIA


O CÉREBRO E O CONSUMO DE PORNOGRAFIA

Paulo Louzada, MD PhD - Professor da UFRJ.

O consumo de pornografia é um estímulo para a plasticidade neuronal cerebral, ou seja, para a capacidade do cérebro de mudar (não no sentido positivo) e se adaptar à essa experiência. Assim, a longo prazo, a pornografia parece criar disfunções sexuais, como a incapacidade de atingir o orgasmo com um parceiro real. O cérebro cria circuitos no córtex pré-frontal que geram excitação apenas se há pornografia e masturbação. Assim, ao invés de recorrer a um parceiro romântico em busca de satisfação sexual, usuários crônicos da pornografia instintivamente pegam seus telefones e laptops quando há o desejo. O cérebro traduz estímulos prazerosos de qualquer natureza neuro quimicamente como LIBERAÇÃO DE DOPAMINA NO NÚCLEO ACUMBENTE (que fica no lobo frontal). Além disso, surtos neuroquímicos de recompensa dopaminérgica (com prazer extremo) evocam níveis de habituação no cérebro também fortes: você̂ tenderá a procurar cada vez mais pornografia. Como dito no início, a pornografia induz a uma mudança neuroplastia cerebral. Assim, quando os produtores de pornografia anunciam a criação de novos conteúdos, o que eles não dizem é que têm que fazer isso porque seus clientes já desenvolveram tolerância em relação ao conteúdo pornográfico usual (e se desinteressaram, mesmo assim precisam de mais pornografia). Ocorre exatamente o mesmo quando há tolerância a drogas, e precisamos de doses cada vez maiores para obtenção do mesmo efeito de liberação de dopamina. O resultado pode ser a alteração do sistema normal de recompensa no cérebro e deixando-o sem interesse nas fontes naturais de prazer. Consumidores frequentes de pornografia relatam que não necessariamente gostam de serem assim. Essa desconexão entre querer e gostar é uma característica marcante da desregulação do neurocircuito normal de recompensa . Eles precisam da recompensa proporcionada pela dopamina, mas gostariam mesmo era de ter uma relação amorosa convencional, mas não conseguem mais. O melhor caminho sempre é mantermos os circuitos neuronais naturais.

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