sábado, 9 de março de 2019

O que está nas raiz dos problemas da direita francesa é sua crise existencial.

O que está nas raiz dos problemas da direita francesa é sua crise existencial. Você não pode se dizer um patriota francês enquanto canta a Marselhesa, se emociona com a Queda da Bastilha, com o lema liberté, equalite, fraternite, e até quando anda com a bandeira tricolor da França. O francês de direita deve entender que a França a partir de 1789 tornou-se outro país. Deve imaginar que existia uma linha historica, pelo menos desde Charlemagne, e que mil anos depois, em 1789, ela se rompeu completamente. Uma Nova Ordem cultural foi edificada e aceita. A França histórica, cristã, católica e monárquica, desapareceu.
Se como objeto de identidade histórica a Nova França é um desastre, uma tragédia similar a permeia nos aspectos mais mundanos: além de comer poeira dos britânicos, americanos e alemães na corrida econômica industrial, a França deixou de liderar a Europa continental a partir de 1870 (com a derrota para a Prússia de Bismarck, e com a subsequente unificação da Alemanha), posição a que estava acostumada há pelo menos mil anos (embora não continuamente), foram humilhados pelos alemães de novo em 1914-18, sofreram a maior humilhação militar da história moderna em 1940, e ainda perderam para a Indochina (Vietnã) e para a Argélia depois de 1945. A história da "Nova França" é a história de uma nova cultura degenerada e degradante, de marginalização política e econômica, e de humilhações militares capazes de constranger até o mais febril nacionalista.
Para escapar de tanta desonra, os franceses nacionalistas costumam lembrar de Napoleão e De Gaulle. Mas, no que efetivamente o general corso lembra a Antiga França? Em absolutamente nada. Ele era um completo produto da modernidade, um despota secular comum, e que inclusive auxiliou decisivamente os revolucionários. Ele pode ter dado um breve orgulho militar para os franceses, mas não o cultural-historico necessário.
Quanto a De Gaulle, quem não o vê como uma triste figura? É inevitável. Por mais que ele tenha tentado, não é plausível a narrativa de que a França efetivamente resistiu ao domínio alemão. Ninguém acreditou nessa história em 1945 e ninguém acredita hoje. Nem o próprio De Gaulle deve ter realmente acreditado, mas falava para fins de consumo público. O problema não foi ter perdido a guerra, isso acontece com todo mundo. O problema, quando tratamos do orgulho, é sobretudo a questão de ter lutado bem ou mal. E os franceses lutaram muito, muito mal, sem nenhuma valentia e vontade. Poderiam ter recompensado isso com uma resistência violenta, maciça e furiosa contra os ocupantes alemães, como fizeram os poloneses (que lutaram com bravura em 1939) e os iugoslavos, mas os franceses não fizeram isso. Mesmo estando perto da Inglaterra (para receberem suprimentos, explosivos e armas), os franceses aceitaram a ocupação, e isso que foi o mais humilhante.
O grande ídolo do francês de direita não deveria ser nem Napoleão e nem De Gaulle, mas Cathelineau, o carismático líder católico que, comandando exércitos, quase derrubou o governo jacobino, mas acabou morrendo em batalha antes disso. Cathelineau representa a França Ancestral melhor que ninguém. Todavia, hoje é um quase desconhecido entre os franceses.
O patriota francês, portanto, deve descartar a Nova França e lembrar da Antiga França. Deve jogar fora a bandeira tricolor e adotar a antiga bandeira azul. Deve lembrar que a Marselhesa e o lema da Revolução são símbolos do anticlericalismo da Nova Ordem francesa, e sendo assim são incompatíveis com a maior característica palpável da Antiga França: o cristianismo. Só assim, voltando as raízes, o francês direitista pode deixar de ser essa figura patética, esquálida e confusa.
(Nicolas Carvalho de Oliveira)
Fonte: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=545451322610686&id=100014374681823

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